Viva a Valença de Aparecida Santos
Edição: 565 Publicado por: Paulo Roberto Figueira Leal em 27/09/2017 as 08:49
Quando o Gustavo me convidou para escrever um artigo para a edição comemorativa do Jornal Local, cogitei discutir questões políticas, históricas... Vício de quem trabalha há muitos anos no mundo acadêmico. Mas então comecei a me perguntar: qual é o sentido, o sentido profundo, de Valença para mim? A cidade não são as casas, as ruas e as praças. A verdadeira cidade, o que realmente importa numa cidade, em qualquer cidade, são os afetos. As casas, as ruas e as praças são apenas os cenários, os espaços concretos amalgamados aos nossos sentimentos e memórias.
Valença, para mim, é minha família, são meus amigos de ontem e de hoje, é minha história no Instituto de Educação – onde entrei no jardim de infância e de onde saí para a UFRJ. São os queridos colegas e professores que lá compartilharam comigo seus caminhos. São os encontros a partir dos quais construímos nossas vidas. Essa é a Valença realmente relevante. Importa pouco se nossa cidade é a melhor ou a pior do mundo (e a nossa não é uma coisa nem outra): basta ser a nossa cidade para que percebamos o quanto podemos até ter saído dela, mas ela nunca saiu de nós.
Logo, gostaria de compartilhar com vocês nesse artigo minha avaliação sobre aquilo que de melhor Valença teve, tem e terá a oferecer a nós e aos outros: nossa gente. E, para não ficar em abstrações, gostaria de dar um nome, uma vida, uma história como exemplo: a da querida professora Aparecida Santos, que nos deixou há poucos dias. A D. Aparecida é mais do que minha ex-professora, mãe dos queridos amigos Gersinho, Euber e Marquinhos. A D. Aparecida é o exemplo do que a gente dessa cidade é capaz de ser e de fazer.
Vou sempre me recordar dessa fantástica pessoa e professora. Uma ex-operária negra, orgulhosa de sua origem de classe, de etnia e de gênero, na sua inabalável fé na educação como instrumento de transformação. A esposa do S. Filinho, ao lado de quem enfrentou com amor e bravura a doença mental do filho Mirinho (ambos também nos deixaram há alguns anos), lutando dia após dia por ele e por todos os doentes mentais da cidade. A militante política de esquerda que nunca deixou de batalhar pela construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Nesse momento de comemorações em Valença, é preciso dizer que uma cidade que foi capaz de produzir alguém como D. Aparecida Santos tem do que se orgulhar e tem motivos para manter fé no futuro. Nesses dias complicados que vivemos, em que há tantos motivos para a desesperança quanto ao presente e ao futuro, o caminho trilhado pela D. Aparecida evidencia um norte para aqueles que não desistem da luta por justiça, da educação pública e gratuita, do trabalho honesto e do amor pelos outros como bases sólidas para construir uma vida e, também, uma cidade, a nossa cidade. Que Valença continue produzindo gente como ela.
Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
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